A cerâmica artesanal de Lucia Eid
Foi pensando em opções para compor belas mesas que Lucia Eid embarcou pouco a pouco no universo da cerâmica artesanal. O que começou como um hobby, atendendo ao pedido de amigos e familiares, logo se tornou profissão e há 18 anos ela atua como ceramista. Em cada peça, uma surpresa diferente, uma condição à que Lucia já esta habituada – faz parte do ofício. Um trabalho demorado, detalhista, caprichado, feito a mão: “Você tem que pensar, você tem que elaborar, quer dizer, você tem que criar”. E é nas cores que ela encontra o combustível e a inspiração para cada novo projeto. Conheça um pouco mais desta história.
O lugar do artesanal na nossa vida. Nossa vida no artesanal.
Hoje, em tempos do digital e instantâneo, o artesanal vem nos lembrar o valor do que é único, exclusivo e pessoal. Lucia destaca que o trabalho como ceramista lhe deu mais concentração, calma: “Ele me dá jogo de cintura, porque se a peça não ficou do jeito que eu queria, eu consigo mexer para que fique de um outro jeito. E o mais bacana: ele me dá a cor, me dá a forma”.
Sua relação com a cerâmica tem a ver com o seu gosto pela cozinha. “Adoro cozinhar e poder coordenar com o prato que eu tenho no meu louceiro. É como escolher uma roupa”. Tudo começou como um hobby, no entanto suas peças chamaram a atenção de amigos e em apenas alguns meses Lucia já estava com dois fornos na varanda do apartamento. “Tem gente que põe rede. Eu pus forno”.
Com o tempo, surgiu a necessidade e o desejo de profissionalizar sua atividade. “Foi ai que eu comprei uma casa na Vila Madalena, reformei e montei meu ateliê e uma escola”, e desde então o espaço só vem crescendo: “Hoje a Olaria é uma pequena fábrica. Damos conta de fazer umas 5, 6 mil peças por mês, o que, para o artesanal, já é escala de fábrica”.
A herança, o tempo e o jogo de fazer no escuro
Lucia traz uma herança artística da família e sua relação com a cerâmica aconteceu de forma natural, motivada pela beleza das cores: “O que me atrai muito na cerâmica e o que me atrai na vida, de maneira geral, é a cor. Se você olhar minhas coisas, é tudo colorido. E isso é um traço da minha família. A minha avó era pintora, trabalhava com cor. A minha mãe é escultora, trabalhava com cor. Eu fui para cor. (…) Então, a cerâmica serviu para eu colocar a cor, usar a cor”.
Uma peça artesanal é também uma herança para a vida toda e leva o seu tempo para ser gerada. São 20 dias entre os primeiros passos da manipulação da argila até o acabamento do produto final. A cada queima, uma surpresa, porque o processo muda a textura e a cor aplicada sobre a peça. “É um pouco conseguir trabalhar com a ansiedade, mas tudo o que eu faço de piloto eu peço para o meu funcionário queimar no dia”. Isto para poder ver o resultado logo.
Dividindo a mesa
Este ano Lucia lançou um livro, chamado Prato Feito – cozinhando com as cores: um catálogo de cerâmica em que ela, para vestir as peças, apresenta receitas da sua família. “Eu precisava mostrar para o mundo que é possível você fazer cerâmica colorida com comida colorida. Então foi por isso que eu acabei fazendo esse livro”. Dividir conhecimento, aliás, é uma das especialidades servidas em seu ateliê, afinal Lucia também dá aulas de cerâmica: “Eu não tenho problema em dividir. (…) As informações são do mundo e eu gosto de dar aula porque o aluno traz, você dá e ele traz de novo e você cria outras coisas”.
O funcional
Em 2000, Lucia teve seu trabalho ‘De Prédios a Pratos’ selecionado para a exposição 500 Anos de Design, na Pinacoteca do Estado. Desde então ela transita entre o design utilitário e de peças com traço único e inovador. No desenvolvimento de peças funcionais, como pratos, copos, jarras, entre outras louças, existe uma preocupação profunda quanto à praticidade destas peças: “Primeiro eu fico pensando se a peça seria uma coisa que eu teria no meu armário, no meu louceiro: é fácil de empilhar? É resistente? Ela fica mais delicada fazendo de um jeito ou de outro? As cores vão combinar com pratos diversos? Então eu vou pensando como eu gosto de cozinhar, como eu gosto de montar a mesa e acabo montando uma coleção que se adapta a praticidade da gente”.
Criação
Lucia conta que geralmente costuma visualizar a peça antes de começar a trabalhar com o material. No entanto, há exceções, como é o caso da sua nova coleção em parceria com o Westwing, chamada de Maria Antonieta. Lucia buscava um trabalho diferente, com peças marcadas no dedo, sob um processo especial. Além disso, ela experimentava uma tinta nova, dourada como ouro e de aparência fluida, como se escorresse das bordas da louça. “Quando eu vi o jeito que ficou pensei em Maria Antonieta”.
A nova coleção tem um frescor jovial e, ao mesmo tempo, traços clássicos atemporais. Isso quer dizer que ela se adapta bem a todas estações. É uma paleta de cores alegre que, se combinada com algo como o azul marinho, funciona muito bem para o inverno. E, para o verão, você poderá usar as peças combinadas a uma paleta clara, como creme. “Ela tem um jogo e, dependendo também do fundo e tecido que você usar na mesa, da composição das flores, ela se adapta”.
Imagens: Westwing e Olaria Paulistana