Para uma quarentena em equilÃbrio
Como a coaching Ana Raia pode nos ajudar a atravessar esse período
O isolamento social que já dura meses nos tirou da zona de conforto, apresentou um mundo que nunca pudemos imaginar e trouxe uma avalanche de incertezas, uma montanha-russa de sentimentos e o medo do desconhecido. Lidar com a nova rotina ainda nos obrigada a enfrentar situações inéditas. Por isso, o Westwing foi conversar com a especialista em desenvolvimento humano Ana Raia, que se dedica ao autoconhecimento há mais de 20 anos. No papo, ela fala sobre foco, sobre a importância de escolher onde colocar sua energia, cultivar o autocuidado e sobre como nossa casa, antes um local de repouso, virou o lugar de proteção, acolhimento, descanso e trabalho.
Westwing: A ansiedade tomou conta de muita gente na quarentena. Qual o melhor caminho para cuidar e administrar as emoções?
Ana Raia: Um antídoto para a ansiedade é focar no presente e, para isso, as práticas de mindfulness são maravilhosas. Outra dica é focar naquilo que você pode controlar. Por exemplo: distribuir bem o seu tempo, eleger quem vai fazer parte da sua vida, cuidar da alimentação, praticar atividades físicas. Outro ponto importante é escolher para onde vai dirigir sua atenção, se é na preocupação ou em encontrar soluções. Por último, cultivar emoções positivas, como a gratidão, a autocompaixão e a apreciação pela vida ajuda muito.
W.: As mulheres estão sendo mais exigidas pelos cuidados com a casa, filhos e trabalho. É possível encontrar um equilíbrio e se cobrar menos?
A.R.: É possível, mas é um processo que convida ao autoconhecimento, a aceitação e a autocompaixão. O primeiro passo, talvez, seja abrir mão do título de “mulher maravilha”. Temos que erradicar a ideia torturante de que “temos que dar conta de tudo”. Isso não nos faz menores, e sim, humanas com limitações, em constante evolução. Portanto, suscetíveis a errar e a fracassar.
W.: O que mais podemos fazer?
A.R.: Elencar prioridades, se organizar para fazer o melhor que pode com os recursos, o tempo e energia disponíveis. Vão ter dias melhores e dias piores e está tudo bem, pois as oscilações emocionais fazem parte da condição humana. Nesse caminho, é fundamental tratar a si mesma com gentileza e compreensão. Por último, saber pedir ajuda. É bom ajudar, mas também é bom receber.
W.: Vivemos um momento em que estamos com déficit de energia. Como ganhar vitalidade?
A.R.: Com o autocuidado. Cuidar de si é revigorante e fundamental se queremos dar o nosso melhor para as pessoas à nossa volta e ao mundo. Não precisa ser um ritual elaborado, e sim ter uma forte intenção e tempo. Você pode se reenergizar colocando o pé na grama, tomando um banho caprichado com óleos, escutando uma música que te emociona, uma aula de yoga, um prato que te traz prazer. Cada um sabe o que faz bem para a alma. O autocuidado é um ato de amor a si próprio: aumenta a autoestima, a autoconfiança, te dá energia para lidar com os imprevistos que a vida traz.
Pela manhã pergunte-se: “O que posso fazer hoje para me deixar feliz?”. E encontre um espaço para colocar a resposta em prática! Sua alma agradece!
W.: Qual ganho as pessoas estão tendo com a vivência extrema em casa?
A.R.: Existe o convite à mudança e pode haver ganhos, mas só para quem está disposto a se abrir e se desconstruir. Lidar com as emoções, entender excessos, descobrir o que é prioridade, e, assim, construir novos hábitos e comportamentos pode se aproximar do essencial e de uma vida mais verdadeira. A pandemia não muda ninguém, a não ser que essa seja uma escolha voluntária e individual.
Outro ganho foi o de tempo. Com menos distrações, sobrou tempo não só para o autoconhecimento, mas para conhecer com profundidade aqueles que habitam o mesmo teto e se distanciam sem perceber. Relações puderam se tornar mais fortes ou, em alguns casos, se mostraram insustentáveis, abrindo novas oportunidades.
W.: O que muda a partir dessa nova relação com o lugar onde moramos?
A.R.: O cenário mudou e as relação indivíduo-lar também. Vamos lá: o ser mora no corpo que mora na casa. A pandemia nos levou primeiro para a importância da saúde do corpo e depois para a casa, porque a saúde hoje só pode ser preservada na casa. A morada, que sempre foi o lugar de repouso virou o lugar de proteção, acolhimento, descanso e, para muitos, de trabalho também.
A casa ganhou mais funções, e nós, mais tempo e funções nas casas. A relação de tempo e espaço mudou. Muitas pessoas mudaram suas casas, a decoração e a disposição de cômodos. Isso mostra que a conexão conosco é indissociável da conexão com nossas casas. Vejo como um resgate importante, porque vivíamos para fora, do corpo, da casa, e hoje, voltamos para o lar e estamos ressignificando-o.
W.: Como cultivar o otimismo quando tudo parece fugir do controle?
A.R.: Otimismo é mais do que ser positivo, é ter um olhar positivo sobre o futuro e fazer o que for preciso para melhorar a situação. A diferença básica entre o otimista e o pessimista é a forma como escolhem significar os acontecimentos. Assim, ser otimista é escolher enxergar os acontecimentos que a vida traz, de maneira realista, e então, tomar a melhor decisão, que, indiferente à ocasião, é sempre encontrar oportunidades de crescimento em vez de cair no papel de vítima. Um bom exercício é o de se perguntar: para que isso aconteceu em minha vida? Em seguida, fazer uma nova pergunta: o que posso fazer para melhorar essa situação?
W.: Qual foi seu maior ganho neste período?
A.R.: Ainda não tenho certeza de todos os ganhos, mas divido aqui dois aprendizados:
-Focar no aqui e no agora é um excelente antídoto para a ansiedade e nos dá a possibilidade de desfrutarmos da vida.
– A natureza e nossas emoções estão em constante mudança. Saber que as emoções e situações são temporárias (tantos as boas quanto as ruins), e que não somos elas, nos dá a chance de gerenciar a vida, planejar para agir e transformar. E isso é libertador!