Do lixo ao luxo
Nascido e crescido em uma pequena cidade francesa chamada Saint Héand, Grégoire Abrial só descobriu aos 20 anos que se tornaria um designer e um artista. Nessa época, desistiu da escola de engenharia e estava perdido, sem saber que caminho seguir. Intuitivamente e sem planos para o futuro, começou a desenhar móveis em sua garagem. A partir daí surgiu a reflexão de que o design é uma ferramenta capaz de comunicar histórias e ideias positivas.
Slow Design
“Posso fazer uma mesa exclusiva ou desenvolver um artigo para produção em série, para mim nos dois casos isso é design“, conta Grégoire.
A partir de tal conceito e inspirado em profissionais da área como Ron Gilad, Amy Lau, Bansky — entre outros —, ele trabalha o “Slow Design”. Isso significa que em cada etapa do processo se pergunta: qual é a melhor opção? Qual a decisão que mais beneficia meio ambiente, a comunidade e os indivíduos? Focando nessas três esferas, seu objetivo é oferecer soluções cada vez mais sustentáveis para todos.
Bright Friday
Existem alguns lugares que também motivam os projetos de Grégoire. Um deles é Nova York, onde passou cinco anos na cidade e encontrou inspiração para o Bright Friday, brincando com o famoso termo Black Friday (quando as lojas reduzem os preços e oferecem grandes descontos). A ideia era mostrar para as pessoas o quanto nós desperdiçamos diariamente. Mas ao invés de tentar convencê-las de que isso é errado, decidiu comunicar seu pensamento através de presentes.
Recolhendo tudo que encontrava pelas ruas do Brooklyn (principalmente madeira e seus derivados, como placas de melamina), ele desenvolveu 12 móveis e reaproveitou o que seria descartado. Do lixo ao luxo, o que seria considerado antiquado virou arte com significado!
Marchetaria artesanal e técnicas do bordado ajudaram a incorporar a palavra “FREE”, que serviria para chamar a atenção das pessoas. Ao todo, o tempo de desenvolvimento levou quatro meses.
É só pegar!
Como a ideia era presentear quem circulava pelas ruas de Nova York, Grégoire espalhou os móveis em locais em que chamariam a atenção de bastante gente. A data também não poderia ser melhor: a semana de Black Friday. Quem sabe nessa ocasião as pessoas não iriam se deparar com um tesouro brilhante!
Quando perguntamos como foi a reação das pessoas, ele conta:
“Primeiro elas viam uma cadeira e, até aí, nada de especial. Aí percebiam que estava escrito “grátis” e se aproximavam. Esperavam e pensavam: “o que é isso, por que largaram esta cadeira aí?” Algumas sorriam e partiam, outras tiravam uma foto, enquanto umas apenas agarravam a cadeira e iam embora.”
E agora?
Grégoire está no país desenvolvendo mais uma de suas ideias sustentáveis ao trabalhar com bambu, rattan, madeira e concreto. Ele ajuda as companhias a desenvolverem coleções ecológicas que tenham potencial para serem exportados para a Europa.
O designer está com vontade de fazer mais um Bright Friday, mas agora no Vietnã! A questão é que encontrou um empecilho bastante agradável: “As ruas são muito limpas e as pessoas não desperdiçam nada”, explica. Diz ainda que se você colocar qualquer coisa na calçada em poucos segundos já vem alguém recolher e vender para um centro de reciclagem.
Agora imagine se ele vem para o Brasil e você dá sorte de encontrar um dos móveis de Grégoire Abrial pela rua?