Decoração afetiva

Mayra Navarro é dona de uma energia tão contagiante que quando ela diz: ‘Entre e fique à vontade’, não tem como sentir outra coisa a não ser acolhimento. Seu apartamento de 58m², localizado na Zona Sul de São Paulo, é um verdadeiro convite para passar o tempo e desvendar os segredos de cada detalhe decorativo. E foi exatamente isso que fizemos em uma manhã quente e agradável de outubro.

O design está na alma

Produção fotográfica, consultoria em decoração, design gráfico, customização de móveis e objetos, direção de vídeos publicitários, pesquisa de design e arte… Parece muita coisa para uma pessoa só? Mas Mayra dá conta! Ela atuou como produtora por onze anos na Casa Cláudia e, hoje, segue fazendo trabalhos esporádicos com a Editora Abril, além de guiar vários projetos paralelos como a Trappo Bazar, marca criada com seu amigo e sócio Aldi Flosi para oferecer ao público um acervo de peças novas, antigas, restauradas e customizadas.

Formada em Desenho Industrial com Habilitação em Programação Visual pela Belas Artes e Pós-Graduada em História da Arte pela FAAP, a moradora de nossa história tem apenas 33 anos e já experimentou diferentes áreas relacionadas ao design: “Quero seguir com o design sempre”, conta.

Mãos à obra!

Os ambientes refletem nossos gostos pessoais e com Mayra não foi diferente! A primeira coisa que você precisa saber é que o apartamento foi encontrado pelo pai dela, o arquiteto Décio Navarro. Anteriormente, a casa era interligada com a da frente através de um corredor. No seu lado ficava toda a área íntima e, do outro, o espaço social.

No processo de reforma realizaram a separação e Décio ficou responsável pela hidráulica, elétrica e estrutura da obra em geral. Enquanto isso, a filha teve a chance de pensar no planejamento dos cômodos a partir do zero, logo na planta. “Pude pensar debruçada na planta junto ao meu pai. Pensei o que era melhor pra mim e como eu queria viver aqui”, relembra.

A penteadeira é sua!

Desde a primeira visita ao apartamento a produtora se apaixonou pela moradora mais antiga da casa: a penteadeira vintage. A proprietária da época contou que quando adquiriu o local o móvel já estava lá e que continuaria como herança para Mayra.

Com 2,15m de largura, foi necessário fazer uma “cirurgia plástica” na peça. A designer conta os detalhes do processo:

“Primeiro pensei onde ia colocar uma penteadeira desse tamanho. Aí fizemos a parede sob medida para ela. Para caber no espaço, resolvi separar as extremidades e dividi-la em duas partes gêmeas. Fiz uma intervenção de cor seguindo as propostas que tinha visto em Milão naquele ano. Outro fato curioso: ao longo das obras o espelho quebrou. Fui atrás de um modelo bem antigo e com 7mm de espessura para ficar igualzinho o original.”

O resultado é um móvel que chama a atenção de todos, dá personalidade a sala de estar e sobrevive ao tempo no melhor do estilo vintage!

Arte, mimos e lembranças

Da gravura do carioca Florian Raiss à aquarela de um casal dançando tango feita por um artista do Caminito em Buenos Aires. A coleção de quadros, telas e fotografias de Mayra surpreende por ser eclética, despretensiosa e repleta de identidade, sendo composta por tudo que a emociona. “O que fica é o acabamento, a moldura, o momento e a lembrança”, ela explica.

Outros nomes que participam de suas paredes são: a fotógrafa Cacá Bratke, o gravurista dos anos 70 Evandro Carlos Jardim, o mestre goiano Antônio Poteiro, além de Hercules Barsotti, Aldemir Martins e Arthur Piza. Entre originais e reproduções, o que importa é misturar tudo e criar efeitos inusitados.

E a proposta vale para os objetos também. Em cada cantinho da casa é possível encontrar uma peça decorativa divertida e fofa, livros que servem de referência e pequenos mimos cativantes.

Entre alguns destaques está uma poltrona que fazia parte da sua casa da Barbie quando era criança. Ela realizou uma intervenção no tecido ainda na infância e, ao crescer, não se desfez do brinquedo.

Hoje, conserva a peça emoldurada e a interpreta como um prelúdio de sua carreira: “Isso pra mim é um símbolo de que eu viria a trabalhar com decoração”, diz a moradora.

Cuidar de cada espaço livre é um sinal de que há amor e carinho pelo lugar em que se mora. Mayra compartilha desse sentimento: “Gosto do que provoca emoção. Você tem que conversar com o lar, ele tem que te dar conforto emocional e eu acredito numa casa afetiva, onde a memória das coisas se faz presente e te deixa mais feliz”.

Refúgios particulares

Vale lembrar que o apartamento de Mayra foi pensado milimetricamente, visando a otimização e melhor aproveitamento dos ambientes. No quarto as portas de correr favorecem a circulação, o painel de madeira cumpre o papel de cabeceira e o reaproveitamento se faz presente. A cômoda colorida ao lado, por exemplo, foi encontrada na rua e restaurada com papel de parede.

Já no banheiro o porcelanato imita a madeira, as persianas oferecem privacidade e a bancada foi calculada centímetro por centímetro.

A pintura amarela dá alegria e energia, pois a designer sempre quis um “banheiro solar”. Com o boxe aberto e iluminação natural, o conceito ficou de SPA e o clima confortável.

Solução inteligente

De volta ao espaço principal encontramos outras soluções inteligentes, dessa vez na cozinha e lavanderia, ambientes integrados de modo discreto.

A estrutura da bancada de concreto comporta os eletrodomésticos e utilitários, além de receber a área de serviço de um jeito disfarçado graças a uma persiana que pode esconder as roupas.

Projeto definido

Base contemporânea, elementos afetivos, doses do estilo retrô e até mesmo influências barrocas (no lavabo) garantem à casa de Mayra uma mistura original e agradável aos olhos.

Para ela o projeto está definido e, apesar de lindo, a vontade de começar tudo outra vez em um novo local existe: “Eu adoro este apartamento, mas já quero começar um projeto novo”, afirma. E é claro que a sua adorável penteadeira irá junto!

Fotos © Cacá Bratke