Costurando histórias com a arte de bordar

Conheça mais sobre a técnica milenar que hoje representa arte, ancestralidade e autoconhecimento, e se inspire com o trabalho de mulheres artistas

Texto: Larissa Bomfim

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Primeiro, você coloca a linha, depois faz um nó para prender e, em seguida, é só passar a agulha pelo tecido. À primeira vista, estas instruções podem parecer simples, mas, nas mãos de verdadeiras bordadeiras, se tornam uma forma de contar histórias, que unem passado, presente e futuro. 

Tão antiga que possui registros da era pré-histórica – quando as agulhas eram feitas com ossos e os fios com fibras vegetais ou tripas de animais –, a arte de bordar hoje é considerada tendência. Segundo o Pinterest, em 2021 as pessoas passaram a buscar as atividades manuais como hobby pela exclusividade do feito à mão. 

Foi com essa ideia em mente que a jornalista paulista Nathalia Parra (@natuborda) aderiu à prática: “Eu queria muito uma camiseta com uma frase bordada e pensei: ‘Quer saber? Vou tentar!’. Minha mãe me ensinou o básico que ela sabia. Ficou meio tortinho [risos], mas eu acabei gostando muito do processo”, conta

Ela passou a estudar mais sobre a arte e, hoje, dá oficinas de bordado para outras mulheres, que aliam a prática à arte e à escrita, adicionando ainda mais significado às linhas sobre o tecido.

“As aulas começaram com as minhas amigas. Nos encontrávamos para bordar e eu ensinava os pontos. Foi assim que descobri o bordado como um ofício de autoconhecimento. Ele se tornou um recurso para eu olhar para as minhas questões, uma forma de materializar sensações, dar corpo ao que eu vivo e deixar a marca das minhas memórias nos tecidos.”

LINHA E AGULHA

Também foi ao traçar memórias e afetos que Mitti Mendonça (@mão.negra) tornou-se artista têxtil, designer e ilustradora. Vinda de uma família gaúcha de bordadeiras de fantasias de Carnaval, ela se formou em jornalismo, mas encontrou em sua marca, a Mão Negra, a realização profissional.

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“O bordado está na minha história e é como eu me entendi como artista, feminista negra e a forma como eu conquistei mais autoestima, liberdade e autonomia. Enxergo a linha do bordado como um caminho, o qual a gente segue e vai aprendendo ao longo da jornada, se potencializando enquanto artista”, diz. 

Inspirada pelo artesanato como parte de sua história desde a infância, Mitti busca imprimir as raízes em cada ponto que faz: “Quero retratar pessoas negras, mulheres da minha família e, também, ser protagonista das minhas próprias narrativas”. 

A ancestralidade, diz ela, está no conhecimento, passado de geração em geração. “Agora, vejo que esse valor está sendo colocado sobre outro aspecto: saindo do ambiente doméstico e começando a aparecer como arte nas exposições. Isso faz parte da luta pela valorização das artes manuais”, conclui Mitti. 

Dessa luta também nascem iniciativas sociais, como a que foi idealizada por Olivia Silveira, Ana Luiza Nigri e Marina Bittencourt. Desde 2017, o Projeto Fio (@projetofio) busca construir um novo olhar sobre a mão de obra feminina. 

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O Projeto se divide em dois: aulas de bordado para mulheres em comunidades do Rio de Janeiro, e uma marca de moda, desenvolvida com as alunas-artesãs que desejam trabalhar com o trio. Segundo Olivia, o bordado se torna uma forma de expressão na vida dessas mulheres. “É uma ferramenta para que elas contem suas histórias através da arte, para que elas encontrem a criatividade dentro delas através da linha e da agulha.” 

“Para nós, o artesanato é uma herança cultural do feminino e do feminismo. A gente cria roupas para contar essa história e compartilhá-la.” Um processo gostoso e elaborado em conjunto: Susana faz os pontos com as cores que a Francisca escolheu. “É uma grande mistura até que todo mundo esteja feliz com o resultado”, finaliza Olivia.

Redatora Westwing

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